O agronegócio brasileiro e a falta de armazéns para a produção

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  Dilceu Sperafico*

O agronegócio brasileiro continua enfrentando grandes desafios para garantir alimentos de qualidade, diversidade e sustentabilidade aos consumidores nacionais, geração de empregos, renda e novas oportunidades de negócios aos empreendedores nacionais no campo e nas cidades e superávits na balança comercial do País. Em 2023, quando o Brasil deve superar pela 1ª vez colheita de 300 milhões de toneladas de grãos, as dificuldades do escoamento da produção serão acrescidas da falta de estrutura de armazenagem da safra.

Com isso, além de depender de transporte rodoviário, mais oneroso devido à elevação dos preços dos combustíveis e das más condições das estradas do País, a agropecuária terá pela frente na safra 2022/2023 gargalo histórico, como serão 120 milhões de toneladas de grãos sem espaços para estocagem, ainda que temporária, em armazéns ou silos de todas as dimensões e nas diferentes regiões produtoras da Nação.

         Segundo especialistas, esse volume de produção sem armazéns no Brasil é superior à toda a safra de grãos da Argentina, que enfrenta o 3º ano consecutivo de seca e irá colher apenas 75 milhões de toneladas, contra estimativa inicial de 122 milhões de toneladas. Para evitar problemas semelhantes aos enfrentados pelos agricultores brasileiros e facilitar a alimentação da população mundial, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), recomenda que países produtores de grãos mantenham estrutura de armazenagem com capacidade para receber 1,2 vez o volume de suas colheitas anuais.

         Conforme estudos de instituições do agronegócio, a defasagem brasileira da estrutura de armazenagem vem se agravando desde 2000, quando o País ainda tinha silos suficientes para estocar toda a produção agrícola do ano. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), desde 2010 a produção nacional de grãos cresceu 82%, passando de 149 milhões de toneladas para 271 milhões em 2022 e devendo atingir 310 milhões de toneladas em 2023, enquanto a capacidade de armazenamento evoluiu em apenas 35%, avançando de 136 milhões de toneladas para 183 milhões.

         Com isso, é possível que neste ano, pela 1ª vez, a estrutura de armazenagem do País, incluindo a rede estatal, de cooperativas e empresas agropecuárias e silos dos próprios produtores, não seja suficiente para receber sequer da safra de verão, estimada em 188 milhões de toneladas, mesmo relacionando apenas os principais produtos, como soja, arroz e milho. Entre as deficiências do sistema está a falta de armazéns dos próprios agricultores e até mesmo na área rural, pois o agronegócio brasileiro vem mantendo a tradição de colher e entregar os grãos para secagem, beneficiamento e estocagem apenas em zonas urbanas, reservando espaços para insumos, como sementes e fertilizantes, em galpões do campo.

         Dessa forma, agricultores, consumidores e empresários do setor bancam os custos de construção e manutenção de 85% da estrutura de armazenagem mantidos em centros urbanos, industriais e/ou portos fluviais ou marítimos, o que explica as extensas filas de caminhões a espera de espaços em armazéns e secadores destinados a receber, beneficiar e manter a produção nacional. Com isso, os grãos colhidos com custos cada vez maiores começam a perder qualidade, enquanto o preço do frete se eleva, num ciclo negativo para produtores, consumidores e exportadores.

*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

E-mail: dilceu.joao@uol.com.br

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