Dilceu Sperafico*
Apesar de tudo o que se acusa e condena, o Brasil é um dos países menos racistas de todo o planeta, com população miscigenada entre indígenas nativos e migrantes europeus, africanos e asiáticos, entre outros, em proporções até certo ponto semelhantes. E o mais importante, com a maioria convivendo normalmente, sem conflitos ou discriminações, somando trabalhos e esforços pelo desenvolvimento econômico e social do País, há vários séculos.
Esse privilégio começou a ser comprovado em 1958, em programa de televisão nos Estados Unidos, quando foram reunidos estudantes intercambistas de países diferentes, para relatar sobre a vida e integração da população em sua terra natal. Na época, vale recordar, a segregação racial era mais evidente em boa parte do território norte-americano e a discussão sobre o preconceito era um dos principais temas do debate com convidados.
Resumindo os depoimentos, a jovem convidada da África do Sul tentou justificar o regime do apartheid. O estudante da Etiópia afirmou que, dentro do seu país, a sua tribo era “superior” às outras e ele não se importava com outros países africanos, já que os etíopes “não tem sangue negro.” A participante italiana, talvez pela herança recente do fascismo dominante na década anterior, preferiu se manter calada e não responder a questão.
A apresentadora do programa, sem outra alternativa, indagou então à quarta participante do programa, estudante brasileira: “E como é no Brasil?” A convidada respondeu orgulhosa: “Nosso País está em vantagem nessa questão, porque nós não temos qualquer segregação. Nós não temos brancos e negros. Temos todas as formas de cores. No Brasil não há a visão de que se a pessoa tem 1/8 de sangue é considerada negra e se ela tem 1/16 ela é branca. Todas são pessoas brasileiras”.
O fato demonstra que a ideia de que no Brasil as diferentes raças viviam em grau de harmonia maior do que em qualquer outro país do mundo era majoritariamente aceita na época, há poucas décadas, quando debates raciais em outros países, sobretudo nos Estados Unidos, motivaram enfrentamentos racistas entre brasileiros. Carreiras acadêmicas foram construídas e organizações não-governamentais desenvolvidas, em torno da ideia de que o Brasil era país essencialmente racista.
A pregação marxista ou esquerdista por antagonismos de opressores contra oprimidos ajudou a disseminar e popularizar essa abordagem, que tem se traduzido em políticas públicas como as de cotas raciais no acesso a universidades e empregos públicos. Felizmente, em tempos atuais, nova pesquisa parece haver resgatado a razão da jovem brasileira que estudava nos Estados Unidos em 1958. Estudo do Policy Institute, ligado ao King’s College de Londres, defende a tese de que o Brasil é país dos menos racistas do mundo.
De acordo com a pesquisa científica, apenas 1,0% dos brasileiros ouvidos disseram que não gostariam de ter como vizinhos pessoas de raça diferente da sua. O País apareceu em último lugar nessa lista, seguido da Suécia com 3,0%. Já Irã, Grécia, Filipinas, China e Egito se destacaram como países mais racistas do planeta.
O levantamento avaliou dados de 2017 a 2022, coletados pelo World Values Surve, referência em pesquisas. Em 2007, quando cotas raciais eram debatidas em universidades, o jornalista Ali Kamel, da Rede Globo, havia lançado livro com título autoexplicativo: “Não somos racistas”, sem contestações.
*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado
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